Sintomas
- DOUTOR, ESTOU SENTINDO UMA RIMA TERRÍVEL. - Onde é que dói? - Às vezes, é bem aqui no peito. Às vezes, é uma pontada, aqui na cabeça. - O que é que o senhor faz, quando dói muito? - Quando eu não agüento mais, eu faço um poema. - Um o quê? - Um poema. É um espécie de mancha que dá bem no meio da página. Tem umas apavorantes. Mas também tem manchas lindas. - E desde quando lhe acontecem esses poemas? - Desde sempre. Desde quando, antes do ventre da minha mãe, eu fui pensado em alguma galáxia distante, por um planeta boiando na luz de um sol azul-amarelo-vermelho-verde-prata... - Deixe-me ver sua língua. - O senhor não leve a mal, mas é uma língua apenas portuguesa. Pouca gente no mundo já viu uma língua como essa. - É, está feia sua língua. Mas não se incomode, que língua portuguesa ninguém presta atenção.- Não é só a língua, doutor. Às vezes, tenho visões. - Visões? - É, vejo círculos, quadrados, triângulos inscritos em hexágonos, e linhas, linhas, linhas... - O senhor conhece ma